“Cada um tinha a sua obrigação para fazer”

Mais tarde fui para Lisboa. Estive lá muitos anos em casa de uma senhora que era condessa. Condessa de Taboeira. Ainda tenho o retrato dela. Trouxe de lá livros, mobílias e isso tudo. Deram-me.

Eu casei-me ainda de lá. Ela já tinha morrido, mas a sobrinha é que foi a minha madrinha do casamento e o casamento foi lá feito em casa. Estive lá uns 30 anos ou o que foi, lá na casa dela. Trabalhei lá muito, trabalhei. Jesus! Tinha as minhas obrigações para fazer e o que calhava. Éramos oito criados. Cada um tinha a sua devoção. Havia o criado de mesa, havia o chofer, havia a cozinheira, havia a ajudante... Enfim, cada um tinha a sua obrigação para fazer. Eu não era ajudante. Tinha as minhas obrigações para limpar a casa, para essas coisas. Não sei agora quanto dinheiro ganhava. Ganhava pouco, poucochito.

Eu vinha cá poucas vezes. Uma vez por ano ou menos. Vinha nos carros. As camionetas vinham até à Vide e da Vide para Chãs d'Égua vinha a pé. Vinha pela Lomba a subir, a pé. Uma vez cheguei à meia-noite à Vide e depois estava lá uma cunhada minha, que já morreu há muito tempo, à minha espera. Viemos pela Lomba, a pé.