“Fiz tudo”

Eu andei na catequese. Quando era miúdo fiz a Primeira Comunhão, a Comunhão Solene, e fui crismado. Fiz isso tudo. Era uma coisa obrigatória. Não podia ser de outra maneira. Hoje os filhos vão se querem. Naquela altura não. Era por obrigação.

Na catequese tínhamos uns seminaristas, mais pela altura do Verão, tínhamos três seminaristas que andaram no seminário da Figueira da Foz, que vinham passar férias. E eles é que eram os catequistas do pessoal. Há um que se formou em padre. Está na Moura, que é o padre António da Conceição. Os outros desistiram, na altura. A única maneira de se estudar era ir para um seminário, para tirar um curso superior, senão não podiam. Naquela época, eles iam para lá, mas tinham de sair padres. Se não saíssem eles cortavam-nos. Houve um lá do Piódão, que o padre embirrou lá com o pai dele, porque o padre é que o pôs no seminário, e tirou-o. Tirou-o e ele teve de ir para Salamanca para tirar o curso superior. Era doutor de Económicas e Financeiras, que era o curso do Salazar. Foi proibido de tirar o curso em Portugal. Era o poderio daqueles padres, de antigamente. Esse rapaz depois foi também para o Ultramar. Hoje está numa Caixa Geral de Depósitos, em Setúbal. E o outro rapaz, esse não seguiu. Foi para Moçambique, para ter uma vida boa, mas aquilo correu mal quando foi a descolonização e hoje está para Lisboa também. Mas ficaram com conhecimentos. Que foi aquilo que os outros não ficaram.