O sonho da Lisnave

Fui para a tropa em 1960. E estive em Angola até 1964. Quando vim da tropa fui para a CUF. Comecei lá a trabalhar na fábrica do sabão. Que a CUF tinha muita coisa. Tinha sabão, tinha óleos, tinha farinha. Tinha e tem. Ainda tem as empresas. Naquela altura, em 15 dias ganhava 850 escudos, portanto, ao fim do mês eram 1700.

Na Fábrica do Sabão, houve uma ocasião em que saiu uma marca de sabão, o Clarim. Quando saiu esse sabão eu estava lá. Aquilo era feito, vinha por uma tela abaixo, e nós estávamos ao fundo da tela a apanhar os sabões e a meter nos caixotes. Depois era fechado e ia lá para as paletes. Eram para exportar. Aquilo teve uma saída que foi uma coisa desconforme. Mas estive aí poucos meses.

Como a CUF estava agregada à Lisnave, passei para a Lisnave e foi lá que me reformei. Depois lá tirei diversos cursos. Foi onde ganhei o meu salário, a trabalhar como serralheiro. A minha profissão é serralheiro. Ganhava o mesmo que na fábrica de sabão porque era da mesma empresa. Depois é que foram aumentando, aumentando. Tinha prémios e trabalhava aos sábados e aos domingos. Aí é que se ganhava bem. Pagavam a 300% as horas. Por fim eu chegava a ganhar num sábado, 30 contos. Era muito dinheiro. Há quase dez anos. E depois reformei-me. Houve uma altura que deram uma chance a quem se quisesse vir embora aos 60 anos, e eu aproveitei e vim embora. Reformei-me com 60 anos.