“Queria comer um bocado de pão e não o tinha”

É para saberem como foi a vida difícil. Muito difícil que foi. A gente, às vezes, queria comer um bocado de pão e não o tinha. Não havia como agora, que compram carnes, compram tudo. A gente é que criava o porquito, mas era para durar para todo o ano. E depois, para se comprar o outro porquito que havia de vir, tinha que se vender, chamava a gente, o “palaio” e a “cagueira” do porco que é aquelas partes mais grossas. E vendia-se um presunto. Ora a gente não comia aquilo e muito mais? E isto para arranjar o dinheiro para comprar depois o outro porquito que havia de vir para o curral. Era triste, era muito triste. Naquele tempo, semeava-se batatas, tínhamos feijão e a minha mãe fazia panelas de sopa. E a gente comia sopa e comia broa. Havia dias de comermos três broas grandes. Ia um, partia um bocado, outro partia outro. Comia-se a broa com a sopa e assim vivêramos. E tínhamos saúde. Hoje é que não a temos.