“O beijinho de casamento”

O dia do meu casamento, não foi casamento nenhum porque eu casei por procuração. Eu quando estava na tropa, fiz o meu filho à minha mulher, que ainda não estávamos casados. E, naquela altura, quando eu fui para o Ultramar, o Comandante disse que se eu quisesse casar que não tinha problemas, que mesmo por ir embora que casava. Ele já sabia que eu tinha um filho. Eu tinha posto na minha ficha. Como eu já não estava em Portugal, ele tratou disso tudo, por intermédio de um padre lá de Lisboa. E então conseguiram fazer o casamento por procuração. Assinei os papéis da procuração, estou casado. Estou legal, casado pela Igreja. Não fui à igreja, mas estou casado pela Igreja.

Todas as semanas tínhamos uma carta. Ela escrevia-me e eu escrevia. Quando eu vim é que lhe dei um beijinho. O beijinho de casamento. Então, fomos viver para a casa de uma avó da minha esposa, até arranjar emprego na Lisnave. Depois arranjei o emprego e é que fui, que ainda hoje lá moro, para a Cova da Piedade.