Albano Sousa e Ana Freire

O meu pai chamava-se Albano Sousa e a minha mãe Ana Freire. O meu pai era de Chãs d'Égua e a minha mãe era de uma terrazinha em baixo, que não vive lá ninguém, chamado Pés Escaldados. As pessoas morreram e os outros foram-se embora. Foi aí que eu nasci. A verdade foi assim. Mas sou de Chãs d'Égua à mesma. É só por dizer que nasci num lugarzito mais abaixo.

O meu pai foi trabalhar para uma empresa, em Lisboa, a CUF, que depois passou para Lisnave. E a minha mãe trabalhava no campo para ver se conseguia sustentar os filhos. A terra era muito pobre porque produzia pouco. Nós éramos seis a trabalhar, cinco filhos e a minha mãe seis, e ao fim e ao cabo, o que a gente produzia não dava para comer para todo o ano. Era a batata, o feijão e o azeite. Vinho, havia pouco. Se não fosse o meu pai a ganhar o dinheiro e a mandar para a aldeia, para sustentar os filhos, a miséria seria pior.

O dinheiro era trazido por alguém que viesse à aldeia. Mandavam uns pelos outros. Quando isso não acontecia mandavam numa carta. Naquela altura era um risco. Podiam ficar com a carta, mas também não adivinhavam que lá havia dinheiro. Ainda havia mais seriedade do que há hoje.

Na CUF, o meu pai era serralheiro. Vinha a casa de ano a ano. Nessa altura não havia as possibilidades que há hoje, de virem todos os fim-de-semanas. Naquela altura não, porque havia pouco dinheiro. As viagens eram caras e, naquela época, a camioneta vinha para a Vide. São 11 quilómetros e meio de Vide para Chãs d'Égua. E nós íamos lá esperar o meu pai, quando ele trazia as mercearias e essas coisas. Era um miminho para ajudar os filhos. Mas era longe. E também lhe custava ir a casa. Mas ele gostava porque tinha os filhos e a mulher.

A minha mãe faleceu, tinha eu 7 anos. Tenho um irmão mais novo que ficou com 3 anos. Uma diferença de quatro anos que temos em relação um ao outro. E do resto dos meus irmãos temos uma diferença de dois em dois anos cada um. Também uma irmã minha, que é a mais velha, faleceu quando eu estava no Ultramar, em 1961. E depois faleceu o meu pai em 1964.