“Nunca cá comeram em casamento nenhum como foi no meu”

Tinha 17 anos quando me casei. A cerimónia era lá no Piódão. A gente ia e o senhor prior, o padre, lá casava a gente. Fomos a pé. Foi às 11 horas o casamento. Mas parece que eram dez quando saímos de cá. Quando a gente se casou, estava o prior no Piódão e ele é que tratou do dia do casamento e dos papéis todos. Mas, ao fim, o padre foi-se embora! Ficáramos sem padre (como agora já ficámos sem padre também). No dia do casamento, quando íamos para o Piódão, dissemos:

- Agora, se calhar, chegamos lá e não há padre.

Mas o prior disse que vinha outro e assim foi. Ao fim estava lá já o padre. O primeiro trabalho que ele fez foi o nosso casamento.

Nesse dia, acordei de manhã, mas estive ali ao cimo do Oiteiro a ajudar lá no forno. Porque, já sabe, quando assim era, as famílias é que tinham que ajudar. Não eram as pessoas de fora que vinham ajudar, era as pessoas de família. Então, eu levava uma blusa cor-de-rosa, uma saia azul e o casaco. E levava por baixo outra roupa, as combinações. Lá iam todos juntos para a igreja. Os homens iam à frente, o padrinho é que ia atrás dos homens e depois ia o noivo. E depois ia a rapariga e ia a madrinha atrás dela. Assim, já sabiam quem eram os padrinhos:

- “Olha, padrinhos são fulano!”

O almoço era sempre nas casas das raparigas. Nunca era do rapaz, era sempre na casa da rapariga que faziam o almoço. Mas era de parte a parte. Os pais do rapaz vinham ajudar e davam também chibas. A gente matava uma rês, eles também matavam uma rês. Se era muita gente, matavam mais rês, se eram poucos, matavam menos uma cabra ou ovelha. Depois juntavam logo aquela carne toda, partiam e iam pôr as caçoilas com a carne a assar no forno. Punha-se numa coisa de barro, que chamavam aquilo uma caçoila. E o arroz-doce também era assim cozido. Então, quando me eu casei, mataram as cabeças das reses, puseram-lhas ali ao fundo, à porta, juntou-se cá a garotada e todos só miúdos lá comeram. Puseram lá aquelas cabeças todas das reses cozidas e eles comeram tudo! Até diziam que nunca cá comeram em casamento nenhum como foi no meu. E ainda lhes deram grão, bolos do forno (que hoje é o padeiro que traz da Malhada e quem precisa compra-lhe), filhoses, sopas de leite com açúcar e tudo. Conforme vinham as pessoas, assim faziam. Quando assim era, as pessoas também mandavam trazer um pão ou dois às raparigas que iam à Covilhã. Porque dantes, se a pessoa dava algum bolo aos garotos, ainda diziam às vezes assim:

- “Olha, a fulana ainda deu um bolo ao meu filho ou à minha filha...”