“O que o padre diz a gente sabe”

Íamos à catequese ao Piódão. Em Chãs d'Égua não havia. Andávamos na catequese aos domingos e todos os meses íamos à Cruzada. Naquele tempo a gente ia-se confessar e comungar todos os meses. Os rapazes levavam uma banda, uma faixa, e as raparigas era um vestido branco e parece-me que levavam um véu ou um lenço que atavam com uma fita na cabeça. Era a igreja cheia de miúdos e miúdas do fundo ao cimo. Os miúdos à frente e as miúdas atrás, emparelhadas em duas linhas, duas alas pela igreja acima. Havia muita criança. E, quando havia uma procissão, a gente também ia de branco. Era muito bonito.

A missa era como agora. Quer dizer, era em latim, só que a gente respondia em português. Mas mesmo assim não tínhamos livros. Respondia pela cabeça! Eu e quase todas as pessoas que há nesta aldeia e no Piódão nunca levavam livros à igreja. A gente aprendia e depois já sabe o que há-de responder à missa. O que o padre diz a gente sabe. Já tivemos missa em Chãs d'Égua. Mas depois o senhor prior que estava no Piódão foi-se embora. Veio, então, um padre que está na Moura da Serra. Era do Piódão, mas foi paroquiar a Moura e ainda lá está. Então, é ele que vem ali celebrar missa, aos domingos. Também vem à nossa terra. Vem cá quase todos os meses, porque temos o Santíssimo Sacramento e ele tem que vir renová-lo. Se lhe encomendarem missa, também vem. Só menos ao domingo. A gente, se quiser ir à missa ao domingo, tem que ir ao Piódão.