“Ora tínhamos professora, ora não”

Depois fui para a escola. Naquela altura, eram regentes que estavam na aldeia. Parece-me que andei lá até aos 11 ou 12 anos. Mas só fiz a passagem da primeira à segunda classe. Ao fim, estava a estudar da segunda à terceira. Não sei como foi aquilo, mas parece que falhou a professora. Fiquei sem fazer a passagem. Antigamente, era assim: ora tínhamos professora, ora não. Mandavam-nas para Chãs d'Égua, ali estavam e, entretanto, recebiam ordens para ir para outro lado. Mas chegaram a andar 30 e tal alunos na escola. Havia muita criança, muito aluno. Assim fôramos andando. Foi-se-me passando mais a idade e eu estive aquele tempo sem ir à escola.

Depois veio, então, uma professora dar escola à noite aos adultos, a quem queria ir. Tinha eu os meus 15, 16 anos talvez, comecei a pensar: havia a escola da noite... Meti-me então na escola. Mas os meus pais quase que não me queriam deixar ir porque, como tinham a taberna, eu fazia-lhes falta mesmo à noite. É para ver como naquele tempo era esta coisa de precisarem de trabalho. Diziam assim para uma rapariga:

- “Ah, se fosse um rapaz, faz mais falta a escola. Agora, as raparigas é só para escreverem ao fim uma carta aos rapazes, aos namorados. Não faz falta nenhuma!”

Fui lá de noite e ali no prazo de um mês consegui fazer a passagem. O senhor professor Coimbra, que esteve muito tempo na Câmara, foi quem nos passou da segunda à terceira classe em Arganil!