“A chanfana era o rei da festa”

Casáramos e já há 51 anos! Hoje não há casamentos assim. Convidou-se os convidados e viéramos aqui à Benfeita. Fôramos a pé aqui à igreja. Levava um vestido branco! Foi uma costureira que havia nas Luadas que o fez. Não é agora aqueles vestidos de luxo. Comprou-se o pano e ela lá o fez. Era um vestido branco comprido, um véu e uns sapatos. E o meu marido foi com calça preta, casaco preto, uma camisa branca e uma gravata preta.

Então, fizéramos um banquete para as pessoas, para os convidados e reuniram tudo numa sala. Fez-se lá o almoço. Já lá vão 51 anos, mas lembro-me que a chanfana é que era o rei da festa. E eu faço-a bem. Mata-se o borrego e depois deixa-se estar a carne dependurada até ao outro dia. Depois corta-se aos bocados e tempera-se. Põe-se-lhe sal, um bocadinho de piripiri, cravinho, ervas aromáticas, salsa e serpão, um bocadinho de colorau e eu ponho-lhe vinho também. Mexe-se aquilo bem mexido e fica a marinar de um dia para o outro. Ao outro dia vai para o forno. Eu faço a chanfana assim.

Naquele tempo, não havia pudins nem havia nada. Era só o arroz-doce e a tigelada. Fazia-se com leite. A tigelada é assim: batia-se os ovos bem batidos. Depois punha-se-lhe o leite e o açúcar. Com uma colher de pau batia-se. A gente batia, batia, batia até ela ficar boa. Uns batiam-na mais bem batida. Era conforme. Mas a gente levantava a colher por cima e ela pingava por baixo. Quando ela ficava a fazer fio em cima da outra, estava boa para ir para o forno. No fim de estar aquilo bem batido, está o forno quente, punha-se lá dentro. E o forno é que dá lá conta dela, é que a põe a ferver e é que ela fica boa. Mas criava sempre uma côdea rija por cima. Tostava. A gente depois, quando a tirava do forno, tirava aquela casca e ficava a tigelada amarelinha por baixo. É mesmo boa. E o arroz-doce punha-se a ferver na panela com um bocadinho de água. Depois vai-se-lhe pondo o leite, põe-se-lhe uma casca de limão e põe-se-lhe o açúcar. Vai-se mexendo até estar no ponto, até estar bom. Aqui no Centro Paroquial da Benfeita, quando a gente vai aos convívios, fazem um arroz-doce que é uma delícia.