“Quando a pessoa estava para morrer é que se chamava o médico”

O médico cá da serra era o de Avô. Era um grande médico. Chamava-se o doutor Vasco. Vinha num cavalo. Mas só quando a pessoa estava para morrer é que se chamava o médico. Depois, já não tinha cura. Nem sei o que é que lhe fazia. Via com certeza.

Havia também aqui uns senhores do Piódão que tinham uns livros de medicina e através desse livro davam os seus medicamentozinhos. A gente ia mais a eles. Quando se ia chamar, ele vinha ver o doente e lá dava umas ervas, assim umas coisitas. Não havia comprimidos. Havia umas plantas, que chamavam malvaísco, a raiz do malvaísco e a raiz dos morangos. Chamava-se Francisco Barbeiro. Era o barbeiro. Tinha um filho que era tão bom como o pai. Chamavam o Arnaldo Pacheco. Uma vez, um irmão meu estava muito doente dos intestinos e fôramos a ele. E o que é que ele dava? Era os píncaros das cerejas pretas. Aquele pezinho da cereja preta. Faziam aquele chá para beber. Era uma coisa que ajudava. Eram os remédios que eles davam através dos livros. Ainda me lembro de irem lá e ele vir aí.

Outra vez, uma neta de umas senhoras lá em baixo estava cheiinha de febre. Então, havia uma planta que chamavam arruda. Cheira muito mal. Misturavam com o fermento para levedar o pão e vinagre. Esmagavam aquilo muito bem esmagadinho, punham num trapinho branco e punham nas fontes da cabeça, em cima dos braços e na barriguinha das pernas para passar a febre. Resultava. Nunca tomei disso, mas eu acho que resultava. Se eles faziam é porque dava. Isto eram os medicamentos que eu me recordo.

Para as constipações, era chá de flor do sabugueiro com mel. Punha-se-lhe mel e bebia-se aquele chá. Era bom. Também havia quem fizesse aguardente com mel. As pessoas diziam:

- “Ai, já bebi aguardente com mel quando estava constipado.”

Para as dores de dentes, bochechavam com aguardente. Não havia dentistas cá.