De apanhar o milho a cozer o pão

Aqui, não há assim muita apanha do milho. Apanhamos cada qual o seu. Quando a gente se juntava a debulhar o milho, isso então era uma festa. Juntava-se lá o milho e, à noite, debulhava-se naquelas palheirinhas. Era o serão. Fazíamos esse trabalho. Cantávamos, dizíamos anedotas, juntava-se rapaziada nova e dançavam. Cantava-se assim:

“O anel, que tu me deste,
Era de vidro, quebrou.
Chora a videira, ó videirinha.
Chora a videira, ó rosa minha.”

Era quando a gente estava nas debulhadas.

Malhar o milho é bater com o pau. Os homens malhavam e as mulheres debulhavam. Sentavam-se em cima do milho a dar com o pau. Tinham um pauzinho assim comprido, redondinho. Punha a espiga daqui, “toque, toque”... A gente pegava um casulo e tirávamos o milho.

Ao outro dia, punha-se o milho a secar nestes grandes bocados, que há aí para semear. Não eram eiras. Púnhamos aquelas mantas de fitas. O nosso milho era todo seco em cima de mantas de fitas. Os tecidos velhos, a gente cortava às tiras, fazia novelos, ia à tecedeira e a tecedeira fazia aquelas mantas bonitas. Ainda há para aí muito disso. Eu ainda tenho algumas.

O milho, depois de seco, ia-se moer ao moinho. Ainda aqui está um, em frente à Casa do Povo. Está ali um pequenino, um moinho muito giro, no ribeiro. É imitação do que a gente tinha antigamente. Havia uma quantidade de moinhos por aí acima. Havia aí uns que era de duas ou três pessoas. Uma ia hoje e amanhã, o outro ia ao outro dia. Mas quase toda a gente tinha moinho próprio. Eram da povoação. As casinhas já estão a ficar velhas, porque veio aí uma grande trovoada que deitou os moinhos abaixo. Fazia-se a farinha e trazíamos para casa para fazer o pão.

A farinha era amassada numa masseira. Fazia-se pão de milho e pão de centeio. Depois de estar levedada, punha-se num forno quente e ia-se fazer a broa. Estava lá em baixo um forno, que era do povo. Mesmo ao lado da União Progressiva. Nessa altura, só havia um. Ainda, às vezes, quando é pelas festas, vão lá fazer pão. É grande. Cabiam lá umas 30 e tal broas. Às vezes, juntavam-se duas pessoas para cozer. Acabavam de tender o pão e punham um sinal. Era assim: a primeira pessoa não punha sinal, a segunda já punha o dedo. Ficava um buraquinho para saber de quem era a broa. Para saber quem cozia, havia uma pessoa que ia pôr outro sinal, punham um pau à porta. Então, as pessoas iam saber de quem era. Essa pessoa era a primeira que cozia. Depois, davam a vez, durante a semana.