“Nunca vi, mas ouvia contar”

Do João Brandão ouvia falar. O meu pai contava que era mau como tudo. Diz que agarrava e ia meter os burros e os cavalos nas arcas, a comer o milho às pessoas. Diz que também tratava mal as pessoas. Diziam. Nunca vi, mas ouvia contar.

O lobisomem, esse também já lembra. Uma vez uma senhora estava ainda levantada, que a gente dormia só por volta da meia-noite, e ouviu aquele “tropelo”. Diz que foi dar volta às ermidas e tornou-se a ir embora. Diz que ele andava em burro ou num bicho qualquer. Sei lá como é que era aquilo. Até diziam que, se lá fosse espetá-lo com uma aguilhada, ele que ficava bom, mas que não se havia de assustar. Depois, foi lá ver a espetar uma aguilhada e viu que o outro ficou bom e ele é que ficou também de lobisomem.

Os mouros fizeram uma levada grande para levar a água só uma noite. Ainda se lá conhece nas penedas. Lá de cima da serra para o lado da Sorgaçosa. E está lá ainda uma Buraca dos Mouros. Uma vez, quando andávamos com o gado, ainda fôramos lá andar, a ver se lá entrávamos para dentro da buraca. Diz que tinham lá o tesouro. Mas, depois, déramos em ter medo, voltámos para trás.