“Pobres, mas alegres”

Graças a Deus, vivíamos pobres, mas alegres. Sempre a cavar terra lá nos campos. Primeiro, tinham bois para cavar, para lavrar a terra. Depois, já deixaram de ter os bois. Cavavam com as ferramentas, com uns garranchos, umas enxadas. Ainda andaram para lá levar máquinas, mas na Mourísia não dá. Era a terra muito empinada e não dava. Lá um compadre meu - até está agora em Côja - ainda para lá chegou a levar umas, mas lá não dá. Tinha de agarrar a terra a braço. Para adubar, era o estrume dos animais. Tinham os porcos, bois e gado, ovelhas, cabras. Agora é que já nem animais, a bem dizer, há. É com adubos que semeiam alguma terra, mas também já lá semeiam pouco. Os novos foram-se embora e os velhos não podem. É assim.

Desde a idade de 12 anos ou 13 que ajudava os meus pais. É roçar mato e lenha, guardar gado, cavar terra. Para lá cavei muita terra. O meu pai cortava as giestas e eu cavava a terra. Depois, quando era aí em Setembro, iam fazer aquelas queimadas. Queimavam a lenha, porque não se podia semear o centeio sem queimar a lenha, e semeávamos. Dava muito centeio aquelas lavoiras. Nessa altura, o meu pai tinha bois. Tínhamos de vir cortar erva e roçar mato também para os bois.