“Nem eu nem as minhas irmãs aprendêramos”

Nunca fui à escola. No meu tempo, não havia na aldeia. Só um irmão meu é que veio para a escola. Dois. Os dois mais novos vinham para a Moura da Serra. Foi já depois, mais tarde, que havia lá escola. Mas nem eu nem as minhas irmãs aprendêramos. Tenho mais duas irmãs. Até estão em Lisboa. Também não aprenderam porque, naquele tempo, não havia escola e a gente era para ajudar os pais. Não era obrigado. Depois, os meus filhos já todos foram à escola. Levou muito sacrifício, mas todos fizeram a quarta classe. A mim não me deixaram ir. Tive pena e tenho muito pena de não aprender. Agora, a gente já não pode estar a trabalhar e, às vezes, ainda entretinha-se a ler um bocadito. Assim, não posso fazer nada. Faz falta, porque, é claro, os filhos foram para Lisboa e até às vezes escreviam uma carta. Tenho pena. Mas então... Não nos ensinaram.