“Aquilo era uma beleza”

No dia da matança era matar os porcos, e depois íamos lavar as chouriças à ribeira. Ao outro dia migava-se a carne. À noite, enchíamos e punham-se a secar. Aquilo era uma maravilha, e fazia-se torresmos daquela carne que se tirava. Aquilo era uma festa. Fazia-se chouriças de carne, cortava-se a carne para umas bacias e depois punha-se a demolhar. Botava-se-lhe sal e tudo e ou outro dia com umas enceideiras vira, vira, vira...Depois enchiam um caniço de chouriças. O dia em que se matava era só comer. Por exemplo, juntava-se a minha família, juntavam-se as mulheres e os homens, a agarrar os porcos. Muita gente ainda filmava aquilo e era bonito. E eu também ainda matei muitos. Mandei matar, que eu não os matava. A gente amparava o sangue para uma bacia, depois cortava-se fino. Punha-se com cebola, fritava-se a cebola e depois punha-se o sangue, aquilo era muito bom.

Para conservar a carne punha-se numa salgadeira, as peças maiores era no fundo. Depois botava-se bastante sal e esfregava-se com o sal aquela carne. Bem esfregadinha, punha-se a carne e botava-se mais sal. Depois punha-se outra peça, punha-se outra vez sal. Dali a um tempo, quando se queria comer, ia tirava-se um bocado e trazia a gente para comer. E as chouriças era na mesma, estando secas, tiravam-se, punham-se no azeite, numas panelas. Mas, se estivessem no azeite estavam mais fresquinhas, no Verão. Aquilo era uma beleza.