Muitas crianças

Eu andei na escola até à terceira classe. Mas a bem dizer só faço o meu nome e mais nada. Leio qualquer coisa mas pouco. Não fiz exame, depois também não continuei a escrever, nem a ler. Só agora é que leio qualquer coisa ou assim. Não sei muito.

Até havia duas escolas na Benfeita. Era uma numa sala grande, de uma casa. E era outra no areal. Havia muitas crianças. Vinham de um lado e de outro. Das Luadas, de Pai das Donas, da Dreia, dos Pardieiros. Também chegou a haver uma escola nos Pardieiros e outra no Monte Frio. Primeiro era só meninos e noutro lado meninas. Depois, mais tarde, já havia menos, já era meninos e meninas. No meu tempo, já havia carteiras e cadernos. Cada um comprava. Para minha triste sorte nunca tive livros de ler. Era uma colega minha que estava ao pé de mim, é que me emprestava o livro para eu ler a lição. Como é que eu podia estudar? Como é que eu podia aprender e estudar? Era uma miséria. As professoras eram muito boas pessoas e eram muito boas professoras. Nunca levei porrada delas. Mas davam àqueles que se portavam mal. Algumas tinham uma vara grande e uma régua. Mas eu nunca me lembro de apanhar grande porrada.

Naquela altura, depois da escola, ainda era miúda, ia ajudar os meus pais a fazer qualquer coisa. Ajudava a tratar dos animais ou ajudava a ir regar qualquer coisita, era assim. Tínhamos porcos. Criavam um porco todos os anos e tinham umas cabeças de gado. Duas cabras, duas ovelhas ou assim.