Médicos, barbeiros, chás e rezas

Médicos, antigamente, tinha que ir a pé, mas médicos nem havia, eram barbeiros. Ainda me lembro da minha mãe contar que uma ocasião tinha alguns pequeninos e tinham que andar até à Benfeita, que tinha, chamavam um barbeiro, e era aí que eles iam por essas serras abaixo a pé. Esse homem receitava também medicamentos, mas era mais à base de chás.

Há pessoas que tomam muitos chás. De cidreira, tília, para o estômago, quando estão maldispostos, hipericão para o fígado. Como eu não gosto de chás, não ligo muito, não sei.

Sei que me contaram, que a minha mãe foi lá comigo uma vez, porque eu não crescia, foi lá e ele disse:

- “Isto não escapa!”

Depois cortavam o ar, lá começaram a dizer:

- “Cortem o ar que depois escapa.”

Era uma noite de lua cheia, num lameiro, no chão, cortam a relva à volta com um sacho. E disse umas palavras. Diz então:

- “Lua, luar, segue o teu andar, deixa a minha filha que a quero criar.”

E cortaram a relva à minha volta. E a minha mãe disse que não sabe se foi disso ou se não foi, porque a partir daí comecei a crescer e pronto. Quando ele veio, uma vez, esse tal barbeiro e diz assim:

- “Quê? Esta é a mesma menina que você lá levou? Eu pensei que ela já não escapava.”

E era assim. Tinha destas coisas. Foram as pessoas da terra, aquelas mais antigas, é que me salvaram, que começaram a dizer isso. Ela experimentou. Ela disse:

- “Olha também não custa nada, vamos lá experimentar fazer isso.”

A minha mãe quando a gente torcia alguma coisa, dizia aquelas palavras que faziam com o panelo. Uma vez caí, e torci um pé e ela também me fez isso. Era um carro de linhas, uma tesoura. Acho que era um pente e depois cozia aquilo tudo no tornozelo. Dizia umas palavras mas eu não sei bem. Era nervo quebrado ou nervo torto é isso mesmo que eu cozo. Assim uma coisa qualquer. Há pessoas que sabem essas palavras mas eu não aprendi assim muito bem.

Mesmo aqui havia peçonha, daqueles bichos que passavam também havia quem cortasse isso com alho e essas coisas assim. As pessoas mais antigas sabem. A peçonha são os bichos, sapo ou cobra ou assim, às vezes, passam na roupa e depois fica, agora dão outro nome que é a zona, dizem zona, mas chamavam peçonha, e cortavam isso. Era com a rama dos alhos, por cima de uma porta. Depois dizem as palavras, vão cortando, queimam aquilo e misturam com azeite e depois botam no corpo por cima daquela parte.

Antigamente os partos era sempre em casa. Havia umas parteiras nas terras é que ajudavam. A minha sogra era uma dessas. Ajudava aí a tê-los. Ajudava as mulheres a ter o filho.