“Era uma festa”

A matança do porco era uma festa. Para nós, aquilo era uma alegria quando éramos mais novitos. Vinham vários homens, amarravam-no, matavam-no, chamuscavam- no, penduravam e mais tarde desmanchavam. As mulheres faziam o comer e depois lavavam as tripas para fazer o enchido, mais tarde, e depois, à tarde migava-se a carne para fazer as chouriças, os enchidos e assim. Eram as chouriças de carne, de sangue, depois as farinheiras também faziam. As de sangue miga-se a carne, depois leva o sangue de porco, que se tira quando ele está a morrer, tem que se pôr sal e água quente no fundo do balde, da bacia, para o sangue não coalhar. E depois juntavam ali, ao sangue, alho e assim essas coisas, os temperos. As chouriças de carne é o mesmo género. É só a carne e depois tempera-se com alho, colorau. Há quem ponha tomilho, cravinho e depois junta-se azeite, água para fazer o molho e põe-se no cepo. Depois de dois ou três dias enchem-se. A farinheira também é o mesmo género. É a mesma carne, mais gordurosa. Há quem faça com pão, punha-se assim azeite, os temperos também no barro e enche-se.

As chouriças secavam-nas, penduravam-nas nas varas, punham-nas por cima das fogueiras, das lareiras até secarem. No fim de secarem guardavam-nas numas panelas com azeite, não havia arcas frigoríficas, naquela altura. Era assim que se fazia. A carne era numa arca, chamavam salgadeira e ali se conservavam. E ia-se comendo durante o ano.