Um pinguito de vinho

Eu andei na doutrina. Era em Pomares. Íamos da Mourísia para Pomares, a pé. Éramos alguns sete ou oito. As irmãs do padre é que ensinavam a doutrina à gente. Porque na Mourísia sabiam doutrina mas naquela altura diziam que já era outra doutrina. Já diferente da de cá. Tinha de ser. Íamos aos domingos. Ao princípio era aos domingos. Depois íamos também à quinta-feira quando era assim já próximo para comungarmos, e quando era para o resto era todos os dias. Chegava a pontos que a gente já andava cansada. Era para a Comunhão Solene.

Para a minha Comunhão a minha mãe comprou um pano tão lindo, parece que ainda o estou a ver, assim aos riscos, a brilhar, pôs umas preguinhas a abrir, depois era uma faixa atrás, e levei um véu de uma noiva na cabeça. Foi o meu avô que o foi buscar ao Monte Frio. Tiveram de o enrufar com uma linha. Chegava-me aos pés. Uma garota. Parece que tinha 10 anos. E foi assim. Primeiro davam comida, umas sandes com fiambre e com marmelada, um copo de água e pronto. E os nossos pais levavam merendas, levavam chouriço, queijo e broa. Levavam comer para a gente comer. Depois, o meu pai ainda comprava um pinguito de vinho. E a gente bebia. Ao fim de virmos “pia acima”. A gente já andava cansada de andar de rua em rua, de rua em rua, de rua em rua. Bebia um pinguito já eu ia a caminhar melhor por aquelas ladeiras acima. Aquilo é que era uma procissão. Tanta gente. No dia da Comunhão a gente andava naquelas ruas e os andores na frente.