Viver da terra

Cultivávamos batatas, feijões, ervilhas, favas, cenouras, tomates, salada, milho, centeio, aveia... Animais, era cabras, ovelhas, galinhas e também tínhamos coelhos. Tínhamos azeitona, mas dava sempre 9, 10 litros de azeite. Era o máximo. Aqui, há poucas oliveiras. Tínhamos um lagar ali na Cerdeira, havia outro em Pomares, outro na Foz da Moura, outro em Cartamil, ao pé da Teixeira, outro em Fajão. E eram os moinhos que haviam aí. O lagar tinha uma carrinha e vinha às povoações buscar as azeitonas. Também cultivamos e fazemos vinho. Antigamente, era com os pés. Depois, apareceram essas coisas das “esmagadeiras”. Começaram a usar as “esmagadeiras”, deixou-se a tradição do “pisamento” com os pés. Ainda pisei. É uma sensação diferente. Parecia que andava a chapinhar na água. O vinho sai igual. Não fica tão bem esmagado como a “esmagadeira”, ficam alguns bagos por canto, mas, depois, vão à prensa e aquilo fica tudo esmagado. Depois de esmagadas as uvas, com o cardaço, há pessoas que não o espremem, deixam ficar na dorna para fazer aguardente. E há outras pessoas que o espremem e depois deitam o cardaço fora. Antigamente, as pessoas ajudavam-se umas às outras, mas, no meu tempo, quando eu vim para cá, já não se usava isso assim. Cada pessoa trabalhava para si.

De instrumentos, usávamos a enxada, o ancinho, o garrancho... Eram assim os instrumentos. Máquinas, não. Só mais tarde o meu avô comprou uma maquinazita para começar, porque já não pode e assim com a maquinazita já é mais... A verdade é que hoje já está mais velhote, já não...

Já usávamos adubos químicos. Quer dizer, também punham estrume, mas também púnhamos adubo para o renovo não ser só à base de estrume. Antigamente, era estrume, só. Era mesmo só a base do estrume dos animais.

Pesticidas, por causa do bicho, do escaravelho, do míldio, da formiga, da aranha... Nas videiras, nas uvas, nas árvores...

Na altura, ainda haviam uns moinhos a moer ao pé da ribeira. Ainda cheguei a lá ir moer muita vez com o meu pai, a pé, com o milho às costas. Depois, para cima, é um bocadinho mais pesado, porque aquilo é moído, dava mais peso um bocadito. Depois, o pessoal começou a comprar moinhos eléctricos e deixaram de ir à ribeira, porque é um bocado longe de moer. Mais tarde, veio uma cheia e levou a maior parte dos moinhos por lá abaixo. Foi agora há pouco tempo, em 2002.