“Não notei grande diferença”

Estive em França até aos 13 anos. Depois, vim para cá em 1987 e estive em casa dum tio meu na Aveia, ao pé de Arganil. Os meus pais ainda lá ficaram a trabalhar. Depois, com 14 anos mais ou menos, fui para o pé dos meus avós. Não notei grande diferença, porque o tempo é totalmente igual. Frio, neve, chuva. Era igualzinho. Por isso, a diferença não foi assim muito radical. Eu lá em casa também falava português. Só falava o francês na escola. Se eu fosse a falar francês em casa, vinha para aqui para Portugal - como viemos - e não sabia falar. Via-me um bocado mais complicado. Assim, o meu pai:

- “Em casa falas português e na escola falas francês.”

Era para manter a ligação cá à terra. Nisso, também não achei muita diferença. Só tive que fazer novas amizades. Na escola, fiz novos amigos. Não foi muito difícil, porque eu sou uma pessoa que basta falar duas ou três vezes com uma pessoa, fico logo amigo, logo me afeiçoo. Conversamos, brincamos e é assim. Mas cá, não havia pessoas da minha idade. Eu tenho 34 anos e a pessoa a seguir a mim deve ter aí uns 42, 43 anos.

O meu avô tinha cabras e, às vezes, eu ia com ele para o gado. Ia-lhes tirar o leite. Houve um rapaz que me ensinou a ordenhar as cabritas. Foi difícil aprender, mas as ovelhas ainda foi pior, porque os “tetos” são mais pequenitos. As cabras é com a mão e as ovelhas tem que ser com dois dedos. É muito mais complicado. Também andava com os animais. Ia para a floresta e, às vezes, para as fazendas. Era conforme. Nunca cheguei a ver lobos nenhuns. Sei que cá na serra ainda os há. Às vezes, íamos lá e viam-se eles andarem. Antigamente, viam-se mais, agora, não se têm visto aí. Há gatos-toirões, esquilos, javalis, isso há que eu já vi. Agora, lobos, nunca cá vi nenhum.