O milho

Aqui há tempos semeava-se muito milho. Era cavar a terra. Depois, chamavam abrir o rego. Botava-se o milho por o campo fora. Tapava-se com a terra e ele lá nascia. Até o apanhar levava muita volta. Tinha que se desbastar, tinha que se sachar, tinha que se empalhar. E regar não sei quantas vezes. Depois quando ele estava maduro é que se apanhava. Mas o milho leva muito tempo a criar. Era bonito. Tudo cultivado. Agora está tudo cheio de silvas.

Desfolhar é tirar-lhe a bandeira. Umas vezes as pessoas juntavam-se, outras vezes cada qual fazia o seu. Quando aparecia o milho rei ia-se dar um abraço. Havia pessoas que eram muito envergonhadas, nem isso queriam ir fazer. Há pessoas que não queriam. Eram de tal maneira. Não era como hoje que andam sempre aos beijos.

O milho era debulhado e andava ao sol. Ao fim levava-se ao moinho para se moer a farinha. Era à ribeira. Hoje já há aqueles moinhos eléctricos em casa, mas no outro tempo não havia nada disso. Aqui na Mourísia até havia muitos. Talvez uma dúzia deles ou mais. Não dava para moerem duas pessoas ao mesmo tempo. Tinha que moer uma de noite outra de dia. Conforme o que o moinho despache. Se o moinho despacha bem até dá para moer para as duas pessoas durante o dia.