Dia de festa

O dia da matança do porco era um dia de festa. Era uma maravilha aquele tempo. Era bonito. Os porcos tinham-nos talvez até um ano na loja. O dia que matavam o porco, já se faziam os torresmos e comiam-se com batatas. Era aquela carne que hoje praticamente chamam entremeada. Naquele tempo era daquela carne que faziam os torresmos. O próprio sangue era cozido numa caldeira na lareira. Que não havia lá fogões. No outro tempo era só as lareiras e nem chaminé tinham. A gente cozinhava ali ao fumo. E havia saúde.

Matavam e lavavam até as tripas. Iam-se lavar à ribeira. Andavam ali as tripas dois ou três dias em sal, alhos e limão e lavavam-se bem lavadas. Migavam-se as carnes. Temperavam-se assim numas gamelas em madeira ou nuns alguidares. Temperavam-se aquelas carnes e fazia-se o enchido. Coisas que hoje já não utilizamos nada, mas naquele tempo era o governo do nosso dia-a-dia em casa. A carne do porco salgavam-na. Hoje põem na arca frigorífica, mas naquele tempo era salgada numa arca. Era os presuntos, aquelas partes das pernas e mesmo as das bandas, como lhe chamavam. Aquilo era tudo tratado com sal para comer durante o ano. Não era como agora que vamos ao talho, vamos aqui, vamos ali. Agora é uma vida moderna. Naquele tempo era uma vida muito amargurada, mas mais saudável que agora.