“Era como a mulher do padeiro”

Depois, fui fazer limpeza para a Escola Técnica, em Almada, na Emídio Navarro. Trabalhava lá uma irmã minha. Foi através dela. Era normal isso acontecer. Com certeza. Há sempre um amigo. E eu sabia trabalhar. Se não soubesse, não andava na limpeza. Às vezes, entravam lá muitas, estavam 15 dias e tinham que ir embora. Nessa altura, eu trabalhava de noute e de dia. Era como a mulher do padeiro. Trabalhava na escola e ia a dias para casa de senhoras a ganhar a 25 tostões à hora. Era uma vida muito difícil. Havia aulas até às 11. Nós, aí por volta das dez horas, tínhamos de lá estar e às vezes era até às três, quatro horas da manhã. Havia dias que era de lavar corredores até às três da manhã. Quando eu chegava a casa já a miúda estava farta de dormir. Começava eu a querer dormir e ela a querer chorar. Às vezes, tinha noutes que nem dormia. Ao outro dia, ia trabalhar também para o Alfeite. Depois, tive que deixar a escola porque não conseguia fazer os dois horários.