“Tudo à pobre”

A minha casa era uma casa pobre, coitadinha. Tinha uma sala, quartos, a cozinha e um corredor. Agora está lá uma sobrinha minha. Já está transformada, teve obras e está de outra maneira do que estava naquela altura. A cozinha tinha a lareira, cozinhava-se nas panelas de ferro, negras. Tinha uns bancos e uma mezita. Naquela altura, nem cadeiras se usavam. Só na sala é que se usavam umas cadeiritas. Era tudo à pobre. Punha-se uma mesa ao meio e lá comíamos de qualquer maneira. Cada um no seu prato. Outras vezes, até era numa bacia, tudo junto. Já me lembra desse tempo.

Comia-se coisas da fazenda. Os meus pais tinham muita castanha. A minha mãe, coitadinha, cozia uma panela de castanhas das graúdas e as miuditas assava-as, num assador. Tinha buracos o assador, punha-se em cima do lume e assava aquilo. Depois descascavam-se e comiam-se. Tinha muita fartura de castanha, de milho, fazia carolos também. O carolo era feito de milho. Ia para o moinho, faziam mais graudinho do que a farinha e depois fazia o carolo, lavava bem lavadinho, depois punha para um tacho, ou uma coisa qualquer e depois fazia o carolo. A gente comia um prato dele, ou dois, e já ficávamos tratados.

Não tínhamos quartos para todos. Dormíamos uns com os outros. Só o rapaz é que não. Agora as raparigas dormíamos umas com as outras. Era uma miséria naquela altura. Não era como agora. Não havia casa de banho. Era numa bacia grande. Lá nos lavávamos de qualquer maneira. Não era como agora. Agora tenho uma casa de banho boa.