Elas fugiam e eu chorava

Lembro-me quando foi feita a casa onde agora moro, tinha eu cinco anos, já ia buscar a água para os pedreiros com um garrafãozito, depois quando eu vinha, como demorava muito lá na fonte a brincar, os meus irmãos começavam logo a chamar por mim, a gritar. Um irmão meu, o Mário, agarrava, despejava-me o garrafãozito da água, eu tinha que ir outra vez a caminho da fonte buscar mais. E os pedreiros na altura disseram-me para eu furar o garrafão. Eu agarrei, levei um prego e furei-o.

Na altura brincar era com umas pinhas ou umas pedras. Com as pinhas a fazer uns burritos, lá íamos a brincar. Mas mais de resto não tínhamos vagar. Era para trabalhar.

Tínhamos gado: ovelhas, cabras. Íamos pastá-las nos lameiros, nas pastagens. Cada um ia com o seu gado. Elas, às vezes, fugiam e depois a gente começava a chorar de elas fugirem. Quando começavam a correr, a gente não as apanhava. Depois elas voltavam.