“Aqui não é quente, mas lá então...”

Estivéramos cá sempre. Depois meu marido emigrou, em 1966, para a Suécia. Eu só fui mais tarde, em 1972. Cheguei à Suécia o dia 1 de Janeiro de 1972.

O meu marido já lá tinha estado quatro anos. Depois tinha cá vindo estar um ano. Eu estava cá com os meus dois filhos. Passava o tempo depressa aí a trabalhar. Tinha muito que fazer. Não tinha tempo de pensar noutra coisa. Ainda escrevi algumas cartas para o meu marido. Tinha cá quem mas fizesse em casa, uma pessoa de família que soubesse ler. Era o meu sogro que me escrevia. Senão, ainda tinha que pedir a quem mas fizesse.

Os meus filhos andaram na escola e depois o mais novo saiu na quarta classe, e já não quis estudar mais. Então, o pai resolveu a levar-nos para lá, para ele lá continuar a estudar.

Chamavam lá Solvesbörg. É a cidade. Era muito frio, muito frio. Nas casas, a gente não tinha frio, tinham aquecimento. Tinha sempre água quente. Abria-se a torneira, saía água quente sempre. Mas quando se saía à rua, de manhã, ali as máquinas andavam a limpar as estradas, mas mesmo assim estava a nevar, a nevar... Era a gente a pôr os pés de cima da neve e ela a estalar debaixo dos pés. E então assim dos lados da cara que ia destapada? O resto a gente tapava, mas na cara parecia que até se cortava a pele com tanto frio. Aqui na aldeia não é quente, mas lá então... Tive que me adaptar.