“Era muito difícil salvarem a pessoa”

Não tínhamos médico na aldeia. Tinha que ir a Arganil ou a Côja. Era longe e, naquele tempo, ninguém tinha cá carros nem nada. Iam a pé. Mas havia um barbeiro ali na Benfeita. Era o senhor José Augusto. Chamavam barbeiro, mas não sei o que é que ele era. Só ouvia dizer que era o barbeiro, que era o senhor Zé Augusto da Benfeita. Era o senhor que vinha cá de vez em quando. Quando alguém andava constipado, por exemplo, chamavam-no e ele vinha. Já nem me lembra se o homenzinho vinha a pé ou se tinha um cavalozito. Talvez tivesse, mas eu nem tenho a certeza. Lá receitava uns comprimidos e diziam que ele era muito entendido. Diz que faziam bem os medicamentos que ele receitava. E, às vezes, eu acho que o homenzinho até trazia. Já sabia. Se era para uma constipação e essas coisas, as pessoas não tinha carro para ir buscar e ele já trazia os comprimidos. Já deixava às pessoas.

Havia outro no Piódão, mas esse não tenho ideia de ele cá vir. Lá devia ir aos da freguesia que o conheciam. Para aqui era aquele senhor da Benfeita. Ele é que cá vinha sempre. Mas não sei como o chamavam. Antigamente, cá na terra, nem havia telefone nem nada. Só se fossem telefonar à Moura.

Era como as senhoras que estavam para dar à luz. Tinham os partos aqui em casa, assim como eu tive os meus filhos, e não havia assistência nenhuma. Ora, quando havia azar, que a senhora não conseguia fazer o parto por ela, se à última da hora precisavam de chamá-lo, ainda tinham que ir a pé chamar o médico e vir com ele e tudo. Quando chegavam aqui, o que é que vinham fazer já? Bem, havia aí uma senhora que já estava habituada a assistir aos partos. Diziam que era uma parteira. Mas, mesmo assim, há alturas que não conseguem fazer nada. Bem, eu aqui não tenho ideia. Tenho lembrança de uma senhora que foi à última da hora para o hospital, mas, nessa altura, já tínhamos cá estrada, já havia telefone, já veio cá o médico e disse que era preciso ir para o hospital. Já vinham mais rápido. Mas, quando não havia estrada, não havia telefone, não havia nada, era muito difícil salvarem a pessoa.

De resto, tinham que andar com uns chás daquelas ervas que diziam que faziam bem aí até se curar. Eu lembro-me de um que me davam. Era muito mau. Custava muito a tomar e não ficava lá dentro. Tinha que o pôr logo fora. Ele amargava. Chamavam insope uma erva muito amarga. Hoje deve ter outro nome. A minha madrinha fazia-me beber à força eu bebia-o sem açúcar, sem doce nenhum. Acabava de o beber, fora logo. Mas ela dizia-me assim:

- “E bom é bebê-lo.”

Mas só que lá vá dentro e torne a vir para fora já faz bem. E havia outro. Chamavam nardo. Diziam que era bom para a constipação, para as gripes. Hoje essas plantas têm outro nome.