“Uns degraus altos para as minhas pernitas tão pequeninas”

Um dia, o meu tio andava na eira onde malhavam o centeio. Andavam muitos homens a malhar. E a minha tia deixou-me sozinha em casa com o menino. Pequenina. O que é que eu faço? Queria ir para casa dos meus tios que eram os pais do tio e da tia onde eu estava, que andavam esse dia a malhar o centeio na eira. Ponho o menino no berço. Tinha um pequeno patamarzinho à soleira da porta. Agarrei-lhe no berço, pus em cima daquele patamarzinho, fechei a porta. Nessa altura, punham a chave ao lado e fui por o outro lado. Fiz uma rodilhita, pus à cabeça, peguei no berço do menino com os dois braços levantados e fui a segurá-lo por ali fora. Eu não rompia os sapatos. Andava descalça sempre. Mas não fui para a casa donde iam almoçar os malhadores. Fui ter à eira onde eles andavam. Só que para ir para lá tinha duas entradas: um caminho por um lado da eira, donde eu vinha, e outro. Eu vou por um caminho, mas chego lá, eram uns degraus altos para as minhas pernitas tão pequeninas. Eu queria subir mas os meus pés não chegavam ao cimo do degrau. Não conseguiam.

- Ora, agora não consigo. Tenho que voltar para trás.

Mas depois pensei:

- Ai, mas há um caminho por o outro lado e por lá não tem degraus.

Era uma vereda por ali acima. Lá vou eu por ali fora. Apareço em cima na entrada da eira. O meu tio andava do outro lado de frente com o mangual. Chamávamos manguais com que andavam a malhar ali. Viu-me lá, atirou com o mangual:

- “Ai, marota! Vinhas para aqui com o menino! Podias-lhe ter vindo matar ao caminho. Como é que tu te aviste para trazer o menino?”

Foi-me tirar o berço da cabeça e foi-me pôr lá longe, onde não chegasse a poeira da pá, para eu o embanar. E lá fui. Depois, levaram-mo para casa, lá para casa da família donde foram almoçar. Lá estive todo o dia.