“Um dia, pôs-me na rua”

Tempo para brincar não havia. O tempo para brincar era eu a tomar conta dos meus irmãos. E a seguir, quando eles eram maiorezinhos, ainda havia o outro mais novo. Já levavam os outros para o campo. Depois, mandaram-me para casa de uma irmã da minha mãe guardar-lhe também um bebé.

O meu pai tinha-me obrigado a ir para lá, porque eu não queria ir. Eu era pequenina… Queria-me era de volta da minha mãe. Sempre. Só andava bem ao pé da minha mãe. Não queria ir para casa dos meus tios nem por nada. E ele obrigou-me. Um dia, fechou-me a porta. Pôs-me na rua. Ou eu ia para casa da tia ou então que me batia. Fui para o fundo da casa dos meus pais. Havia uma pedra, uma rocha lisa no caminho. Passando por ali a baixo, deitei-me lá. Estive lá todo o dia. Toda a tarde. Isto foi depois de almoço. Os meus pais foram para a fazenda, vieram, escureceu e eu estava lá deitada. Fizeram de contas que não sabiam de nada. Mas depois, como escureceu, eu estava cheia de medo. Estava perto da casa dos meus pais, mas mesmo assim tinha medo. Pensava:

- Agora, deixam-me aqui de noite e vem cá os lobos e comem-me.

Depois foi lá um dos meus irmãos. Era esse irmão de quatro anos de diferença. Disse-me assim:

- “Olha que o pai disse que fosses para casa da tia, senão que ele que vem cá e que te bate com a correia!”

Era o cinto que usava nas calças. Eu continuei, deixei-me lá estar. Depois foi lá o meu pai. Queria que eu fosse para casa dos meus tios. Eu chorava. Então, que me pusesse a andar para casa, pois era de noite. Não fui. Lá voltei para casa, mas depois, mais tarde, fez-me ir para lá.