“Não queimavam o gato”

Não tenho grande ideia do São João. Mas lembra-me que era aqui num solheiro, à frente da minha casa, que levantavam o pinheiro do gato. Os homens traziam para ali um pinheiro muito grande. Começavam todos naquela encosta com uma espécie de umas forquilhas no pinheiro. Iam levantando, levantando lá naquela altura para cima. Então, o pinheiro tinha que estar cheio de palha e depois botavam-lhe o lume à palha cá no fundo e ela ardia “pia cima”. Chegava ao cimo, uma corda de palha de colmo estava a atar um cântaro com um gato. Não queimavam o gato. Queimava-se a palha e o cântaro caía para o chão. O gato caía e fugia. O que dava alegria era quando o cântaro caía no chão, se partia e o gato fugia. Tinha que fugir no meio daquela palha a arder no chão. Começavam todos a bater-lhe as palmas, a fazer barulho. Deviam arranjar aí o gato mais manso que encontrassem, que se agarrava. É que os bravos não se deixavam agarrar. Parvos eram eles! Era quando havia muita gente aí. Agora já há muitos anos que não fazem. Já quase que nem lembra isso.