“Mais quentes que são as de agora”

Era uma casa muito simples, de pedra. Por dentro não tinha as divisões que temos agora. Era tudo em madeira. E eram melhores. Eram mais quentes que são as de agora. Até eram boas. Tinha dois quartos, uma sala e cozinha. Tinha a lareira numa cozinha muito simples. Ali passávamos os serões à volta da lareira. Depois tinha um quarto grande para os filhos. Nesse quarto, faziam uma divisãozinha ao meio e tinha uma cama para um lado, outra para o outro. As raparigas dormiam para um lado e os rapazes dormiam para o outro. E os meus pais tinham outro quarto. Nessa altura, não havia casa de banho. A casa de banho era fora, no quintal. Sei lá como é que tomavam banho! Lavavam-se de qualquer maneira. Punha-se água numa bacia, metiam-se os pés dentro e lavavam-se. Era assim o banho.

A água ia-se buscar à fonte com uns cantarinhos. De Inverno, havia uma fonte mais perto de casa, porque rebentavam mais nascentes. Depois, de Verão, já era mais longe. Mas havia uma fonte noutro casal, mais em frente da casa dos meus pais. Os meus pais viviam numa casa assim sozinha, lá numa encosta. E, depois, havia uns caminhos somenos. Ia-se por ali adiante, ia-se buscar a água à fonte, ao outro casal a seguir. Era quem calhava que ia buscar a água. Era a minha mãe, era o meu pai quando os filhos eram pequenos. E, quando os filhos já podiam, mandavam os filhos. Vinham das fazendas e chegavam a casa já de noite. Um, por exemplo, ia tratar do porco, outro ia tratar das cabras ou das ovelhas, outro ia ainda à fonte buscar água. A mãe fazia o jantar. Fazia a comida se não a tinha feita. E, depois, pela noite dentro, é que se ia para a cama.

Em casa, tínhamos um candeeirito a petróleo. Havia um candeeiro que penduravam, espetavam nas paredes. Naquele tempo, tinham um ganchozinho. Havia um outro que chamavam o candeeiro mocho que era um candeeirito redondo. Tinha uma asinha. Havia um velador de madeira com uma parte por baixo para assentar, uma coisa redonda. E depois tinha o pau para cima e ali tinham aonde pendurar. Mudávamos aquilo de um lado para o outro para onde a gente ia. Iluminavam bem. Não havia coisa melhor para a gente naquele tempo. Se fosse hoje, não se via nada com aquilo. Ai! Uso hoje uma luz tão boa ao pé daquilo.