“Os anos mais mal aproveitados da minha vida”

Depois da tropa, ainda fui a Lisboa dois anos. Depois, vim, casei-me, ainda fiquei por aqui, agarrado a isto um tempo. Trabalhava na fazenda. Para fertilizar a terra, praticamente era só com o estrume dos animais. Mais tarde, já havia esses adubos para a batata, já compravam, mas, até essa altura, quase ninguém comprava. Primeiro, não havia. No tempo dos meus pais, não me lembro de eles comprarem nada disso. No meu tempo já havia. Já se comprava às vezes um saco de adubo. Dava para pôr um bocadito aí. Mas no milho não era preciso. Era só o estrume. Às vezes, para a batata, feijão ou isso é que se punha um bocadinho de coisa pouca.

Às vezes, ia dar as minhas voltas. Vendia o que levava e isso e 15 dias, oito dias depois, voltava para casa.

Foram os anos mais mal aproveitados da minha vida, aqui na terra e parte por fora. Sem emprego, viver é uma sobrevivência. Ainda fui algum ano à praia, uns três meses, também ainda lá fui passar um Inverno ou dois e o resto era por aqui. Às vezes, ia vender qualquer coisa pelas feiras. Fazia por aí umas voltazitas a vender umas coisas e isso. Era vendedor ambulante para não estar sempre aqui. E assim se foi passando. Depois, ainda tive até aquela sorte de emigrar em 1966, já tinha 36 anos.