Melhoramentos materiais

Nunca houve água nem luz em casa. Só à volta de 1970 é que veio a luz, já eu não estava cá. Para iluminar, era com os recursos que havia. Ainda tenho um candeeiro que se usava muito. Punha-se de cima da mesa, metia-se petróleo dentro e já está. Os meus filhos já estudaram à luz daquele candeeiro ou doutro ainda mais pequeno que se usava à cozinha. Era a única coisa que havia. Comprava-se o petróleo, punha-se naqueles candeeiros e assim se ia tendo a luz daquele tempo.

A água devia ter vindo um pouco primeiro, 1958, 1960, mais ou menos. Foi a Comissão que pôs. Foi buscá-la lá acima à serra. Antes, ia-se buscá-la ao chafariz, ao fundo do povo. Nós, como éramos pequenos, éramos os andantes de ir buscar a água e tratar das ovelhas, fazer esses trabalhos assim. Para lavar a roupa, há lá um tanque ao pé da fonte, em baixo, ao fundo da povoação. Uns iam lá lavar, outros lavavam em tanques que tinham aí nas propriedades deles. Podiam lá lavar as suas roupas. Era só com sabão que esfregavam a roupa. Até acho que, em princípio, nem havia dinheiro, nem havia essas coisas. Não havia cá quem vendesse. Também ficava longe ir-se à feira a Côja ou isso. A feira de Côja era a mais próxima e ainda são bastantes quilómetros. Alguma coisa que se tinha em casa tinha de se trazer às costas.

Tinha que se ir buscar as coisas às costas à Moura. Só havia estrada até lá. A estrada veio para o Piódão em 1956 e mais tarde veio para aqui. A Comissão e isso lá fizeram a estrada para baixo, por volta de 1958. Antes, tinha de se ir buscar tudo. Qualquer areia, qualquer cimento que se quisesse fazer nesta terra, tinha que se ir à Moura buscar. Mais de meia hora. Temos além uma eira. Ainda me lembra que lá fui buscar areia lá para fazer a eira. Tudo carregado às costas. A capela também. Juntava-se a malta toda e lá tinham que andar a carregar. Cada casa ia buscar uns tantos alqueires de areia, uns tantos sacos de cimento e era assim o transporte. Quase todos os melhoramentos que estão aí foram feitos à custa dos moradores da aldeia. Só o alcatrão é que não. O resto, praticamente foi tudo. Alguns caminhitos e essas coisas. A Câmara, praticamente, nunca ajudava para aqui nada. Depois, a Comissão lá ia fazendo estes caminhos melhores, umas escadas, uns cimentos por aqui e por ali, lá foi melhorando isto. Depois, veio então o alcatrão e a estrada ficou mais prática e melhor. Já tivemos a estrada aqui muito ruim muitos anos, cheia de buracos, cheio de tudo para vir cá para cima. Depois, levou aquele tapete e agora até estamos bem servidos de estrada. Para o que já foi...