“Tudo andava a vindimar”

Faziam muito vinho na altura. O meu pai tinha aí boas uvas e bom vinho. Curava as culturas com uma máquina de sulfatar às costas. Faziam-se aqueles curamentos de oito ou 15 dias. Sempre houve. Na altura das vindimas, tudo andava a vindimar, porque havia muito. Cada um fazia as suas vindimas e os seus vinhos em fins de Outubro, mais ou menos. Aqui era um bocado de frio e tinha que se deixar estar mais um bocadinho de tempo a amadurecer. Era assim. As pessoas ajudavam-se, mas como aqui não havia grandes terrenos e cada um tinha só o seu vinho para os seus gastos, cada um fazia as suas vindimas mais algum pessoal que tinha de família ou isso, que, às vezes, lá ajudava.

Depois, esmagava-se com umas prensas que tinham. Aquilo ia espremendo, espremendo, apertando, apertando, até que ficava bem espremido. Em princípio, esmagavam com os pés, mas depois começaram a vir aquelas esmagadeiras de andar à volta. Depois, punha-se nas dornas a ferver e depois de estar aquele tanto tempo a ferver, tiravam para o pipo. Espremiam o bagaço e quem queria ainda fazia aguardente. Quem não queria punha o bagaço fora, depois de bem espremido.

Ainda fiz alguns anos vinho. Cá, há duas espécies de vinho. Aquele que era enxerto, como o meu pai tinha, que pôs as videiras e enxertou, era bom. Mas há aí uma espécie de morangueiro, que é um vinho de produtor, que é muito rasca, muito bera. E hoje, é só do que para aí há. Foram as videiras cansando e acabaram. Foi isso assim.