“Ajudávamos a carregar terra”

Eu tinha sete irmãos: duas raparigas e cinco rapazes. O ambiente lá em casa era o ambiente destas aldeias: pobres, naquele tempo. Tinham muitos filhos e pouco para lhe dar, de forma que o ambiente era assim. O meu pai, às vezes, tinha que ir ganhar algum dinheiro por fora para os filhos terem para vestir ou calçar. Eu e os meus irmãos ajudávamos a carregar terra, cascalho, uma coisa e outra. Ainda se ajudava. Pouco tempo andavam na escola. Eu, por exemplo, andei três anos na escola. Fiz a terceira classe. Depois, já só havia a quarta, mas nem a quarta me deixaram fazer. Tinha 10 anos, puseram-me logo a guardar um rebanho de gado aí num proprietário lá na Moura, praticamente. Estive lá três anos. O meu pai arranjou aquele patrão para mim. De manhã, ia-se fazer alguma coisa até ao meio-dia: para o mato ou tratar do gado na loja. Depois, ia-se deitar para o campo, para a serra, toda a tarde. Ganhava 100 escudos por ano. O meu pai ia lá receber ao fim do ano o meu ordenado para ajudar a criar os meus irmãos e para as despesas. Era assim que ele fazia. Ainda tive mais uma irmã que também esteve a servir e os outros iam andando na fazenda.

Depois, vim para casa um ano ou dois. Às vezes, ainda saía com o meu pai para a volta que ele ia fazer. Ele, às vezes, ia vender coisas nas feiras e pelas aldeias e eu ia com ele. Do resto, era aqui na agricultura. Cultivávamos o de sempre: batatas, milho, feijão, o centeio também se fabricava aí bastante... O que era mais preciso comer na hora e que dava para guardar para todo o ano. De Inverno, faziam umas cavadas. Na altura de Setembro, queimavam aqueles terrenos, tudo o que se vê aí à volta. Cortavam as giestas, cavavam a terra e depois, queimavam. Faziam as cavadas de sete em sete anos. Em sete anos faziam uma parte, depois, daí a sete anos, outra, depois, tornava a voltar ao fim de sete anos, já as giestas estavam criadas. Depois, semeavam o centeio. Vinha o mês de Julho, Agosto, ceifavam, malhavam e era assim que esta gente toda vivia por aqui. Tinham muito centeio e milho, também. Vendiam, tinham para as famílias, essas coisas assim.

No nosso tempo, não havia brinquedos como hoje há. Tinha era que se ir trabalhar, tratar dos animais.