“Aprendi muito”

Andei três anos na escola. Fui aqui à Moura da Serra. Quando fizeram a escola, eu fui quase dos primeiros alunos a ir para lá. Nessa altura, ensinavam até muito bem. Eu estudava bem. Aprendi muito naqueles três anos, mas muito de verdade. Só tive pena de não fazer a quarta classe, que depois já tinha melhor vantagem para um emprego, para uma coisa qualquer, mas não me deixaram lá andar mais um ano, de forma que mais tarde, tirei a quarta classe para tirar a carta de condução.

Éramos uns 30 alunos lá e uma professora dava conta daquilo tudo. Hoje, já assim não é. Apesar de serem outros programas melhorados, em três anos não aprendem como nós aprendíamos naquele tempo. Acho que tive duas professoras. Houve uma mudança. Foram duas. Recordo que elas obrigavam a gente a estudar e que os alunos tinham mais disciplina. Faziam o seu trabalho, mas bem feito. Não faltavam com as suas aulas. Ficava lá o dia todo. Ia-se às nove horas, estava-se lá até às cinco horas ou à hora que largava. A gente estava todo o dia lá a estudar. Depois, trazíamos uma cópia e uns trabalhitos para casa, que se faziam ao serão, à noite, às vezes. Quando já tinha que ir guardar as ovelhas, em vez de estudar, ia guardar as cabras e as ovelhas que tinham. Era assim.

O pior que tínhamos naquele tempo era o caminho. Não havia estrada. Hoje há uma estrada, mas naquele tempo eram os caminhitos. Todos os dias daqui para a Moura. Demorava meia hora. Por vezes, de Inverno, a roupa molhava-se. Tínhamos que estar com ela molhada. Era um bocado chato não haver aqui professora nem escola. Mais tarde, a minha filha já esteve algum ano ou dois a estudar aqui na povoação. Já havia uma professora aqui, numa casa alugada e nesse tempo ainda havia alunos que chegavam para uma professora. Depois deixou de haver. O meu filho e a minha filha já foram estudar até à quarta classe ali no Sobral Gordo, esta terra aqui ao lado, vizinha.