“Havia dias que os pés bebiam sangue”

E quando se andava em França? Também andei na França 17 anos. Aí é que foi duro. O meu pai arranjou os papéis para ir para a França e, depois, levou-nos também para lá. A minha mulher também foi. O meu filho nasceu lá na França. Lá andáramos. Foi onde arranjei dinheiro para ganhar este buraquito. Não tenho muito, mas ganhei o buraquito.

No fim de vir de França, fui servente. Trabalhava na floresta e na fazenda. Fazíamos de tudo um pouco. Era cortar mato, semear pinhal, alargar estradas. Trabalhava-se com uma picareta e com um compressor para fazer fogo também. E, depois, era o cascalho. Carregava-se dum lado para o outro com um carro de mão. Não havia outro sistema. Era com um carro de mão que se carregava o cascalho de um lado para o outro. E sucessivamente. Andei também a semear pinhal, nas mondas nas estradas por cima e muita coisa.

Depois fiquei sem trabalho. Andei lá em cima nos parques eólicos. Depois, fôramos para os Pardieiros, para uma empresa que fazia mondas por conta do Estado. Para o ICN. O trabalho não se acabou, mas acabou-se o projecto, pronto, ficámos no fundo de desemprego até agora.