“Aquilo é perigoso, dentro das Minas”

Eu andei também a trabalhar nas Minas da Panasqueira. Tinha 18 anos. O meu pai era de lá, era das Meãs. A minha avó era de lá também. E claro, depois, íamos lá visitar a minha avó, quando éramos mais novos. Fomos crescendo, fomos crescendo. Depois, diz que ganhavam lá bom dinheiro. E fomos para lá. Andámos a trabalhar. Fomos à inspecção, uma inspecção como se vai para a tropa, igual. Foi conforme nascêramos, todos nus, a encher os pulmões de ar. Se ficássemos bem, íamos. Se assim não ficássemos... Eu fiquei muito bem.

Até éramos alumiados lá dentro com um gasómetro. Era um gasómetro com carbureto, umas pedras. Eram feitas ali em Canas de Senhorim. Há lá uma fábrica de carbureto. Não sei se ainda está a trabalhar, se não. Então, botava-se as pedras para dentro, água, dava-se uma “tarrachazinha” e aquilo dava luz. Dava luz, mas era uma luz! Punha-lhe uma mola ou arranjava um aramezinho para o bico, podia haver o vento que houvesse, estando quente, aquilo não apagava. Se apagava, acendia logo de caminho. E havia outros que tinham um espelho grande, uma roda em volta do bico para o vento não os apagar. Nunca cheguei a apagar o meu.

Quando o meu pai era das Meãs, fazíamos ali uma hora e tal de caminho. Mas saíamos às cinco da manhã, cinco, seis, sete da manhã para irmos pegar. E com o vento, a chuva e, às vezes, a neve e tudo era um bocado complicado. Então, tinham que trazer os gasometritos impecáveis, preparados para se defenderem. Agora, já não. Trabalham dentro das Minas com umas pilhas. É umas cargas eléctricas que duram para oito horas. Trazem a pilha à cinta com uns cintos bons, assim de cabedal. Têm um capacete, a pilha nada nele.

Aquilo é perigoso, dentro das Minas. Pode desabar um liso. Tem lá morrido muita gente, muita gente. Lá em São Jorge da Beira há muita gente. Então, aquele lugar, aquele cabeço, está só sustento em madeira. Está todo suspenso em madeira! Se um dia há um tremor de terra, aquilo treme, ficavam com a lanternazita todos assolapados debaixo.

Trabalhei muito dentro da Mina. Fazíamos da Mourísia para lá seis horas a pé! Levávamos alguma coisa para comer. A minha mãe cultivava aqui e cozia o pão para a gente levá-lo para comer lá. Depois, a gente é que fazia o comer! Sei ainda fazer o comer. Havia lá uma cantina. Pagava-se naquele tempo 10 escudos por dia. Mas era só uma refeição. Era só a refeição do meio-dia. À noite, não faziam. Vínhamos sábado para cá. Mas foi pouco tempo que lá andei. Um mês ou dois. Depois, o meu irmão quis-se vir embora. Viemos os dois.