“O dia que se matava o porco era uma festa”

Antigamente, criavam-se os porcos. Nós comprávamos um porco no mês do Novembro. Um porquito pequenino, aí de três, quatro palmos. Ia-se buscar uma faixa de palha. Fazia-se um ninho de palha para se ele lá enfiar e ia-se tratando a pouco e pouco. Até parecia como um menino. Quando era a partir de Setembro, é que era começar a engordar para no mês de Dezembro estar mais ou menos. Era sempre porcos de ano. E porcos aí com cento e tal quilos.

No dia da matança, chamavam-se quatro pessoas. Um botava as mãos às orelhas e o outro botava-lhe a mão ao rabo. E o matador, o que matava, botava-lhe uma corda ao focinho e deitava-lhe em cima de um banco. Deitado o porco em cima de um banco é que o matador espetava a faca. Depois botava-se em cima de uma porta de madeira e chamuscavam com carquejas. Então, era raspado com uma faca e era lavado dum lado e doutro com sabão e com uma escova de piaçaba ou dessas bem ásperas. Punha-se um pau atravessado, que é um chambaril, e pendurava-se. Abria-se dos lados por aí abaixo e tirava-se-lhe a parte da barriga, que chamávamos nós a suã. Depois, tirava-se as tripas. Nessa altura, as mulheres iam com as tripas do porco lavar na ribeira, para o pé donde é o castanheiro. E assim se passava.

O dia que se matava o porco era uma festa. Eram quatro ou cinco pessoas para o matar. Quando era à noite, juntavam-se duas mulheres para ajudar a migar a carne. Por exemplo, hoje, era em minha casa. Amanhã, era na de outro, outro dia, na de outro. Ora, hoje, já não é assim. Este ano, fiquei com metade de um, mas não foi morto aqui. Já vinha do talho. Mas fiz enchido. Também hoje se usa o fumo como se fazia antigamente. Ah, mas não é nada como antigamente. Nem o gosto nem nada é como antigamente. Oh, oh!