O aprendiz

Já estava casado, comecei a trabalhar nas obras. Os trabalhos começaram a enfraquecer por aqui, por ali. Pedi a um patrão, que andava aí a trabalhar, se me dava trabalho. Fui para as obras, de servente. De servente comecei a abrir os olhos tentei começar a aprender a arte. Foi o que me safou. Porque se não aprendo a arte tinha pirado daqui para fora. E se calhar até tinha sorte para mim. Para mim e para a mulher. Portanto, comecei a aprender a arte de pedreiro. Se não aprendesse andava toda a vida na mesma.

A gente tem que ajudar quando é a meter placas, carregar vigas, tudo ao ombro. Embora com o patrão que agora trabalho, já é gruas, mas as vigas tem que as pegar para depois o gancho pegar. É tudo mais fácil, mas a gente tem que mexer naquilo. Ferro e tudo. Assentar tijolo, rebocar, rebuçar. Tem que fazer todo o trabalho. Porque se eu não aprendo, não abro os olhos. Também me deram oportunidade. Deram oportunidade, porque enquanto há indivíduos que eram capazes de levar um balde de massa só numa mão, eu pegava em dois. Dois baldes cheios da massa. Depois, eu pegava na colher, pumba, ia a massa para a parede. Ia mais para o chão que a que agarrava na parede. Diz o Artur:

- “Fazes assim.”

E comecei a aprender. Depois comecei a dar serventia lá a um rapaz. Quando era esboçar assim tectos de varandas, eu é que lhe dava serventia, é que ajudava a aplicar a massa. Fazia a massa, ajudava-o a aplicar. Fui vendo e comecei aprendendo. Primeiro comecei a aprender a esboçar com areia fina, massa fina. Depois comecei a aprender a assentar tijolo. E hoje, se não aprendo tinha que me ir embora daqui para fora. Trabalhei com vários patrões.