“Quando fui para a tropa, não saía ninguém sem fazer o exame”

As letras aprendi na tropa, em Tomar. Naquele tempo, não era como agora. Não eram obrigados a ir à escola. E, quando era aos 7 anos, aqueles que eram pobres iam para servir, para guardar gado. Não iam à escola. Depois, mais tarde, é que começaram-nos a obrigar. Éramos uns quatro irmãos. Os dois mais novos já aprenderam a ler. Já os obrigaram à escola. Só eu mais o mais velho é que não. Mas os mais novos, às vezes, para não ir à escola, até se escondiam no mato. Faziam lá uma leira para eles.

Quando fui para a tropa, não saía ninguém sem fazer o exame. Estava o professor a ensinar a ler, a dizer: aqui é assim, aqui é assado. E nós estávamos lá direitinhos a engrilar. A gente tinha que dizer o que diziam nas letras.

Aprendi lá à maneira deles e saí aos três meses. Tinha 21 anos. Foi quando foi a guerra. Quando começou a guerra, fui chamado outra vez. Estive à volta de dez meses na tropa. Mas eu já era casado. Casei-me antes de ir para a tropa. Como a minha mulher era filha única, ficou ao pé da mãe. E a gente era ali a marchar passo. Todos os dias a marchar passo:

- “Vá! Esquerdo, direito, direito, esquerdo!”

E obrigavam a cantar. Cantávamos o hino: “Às armas, às armas...” E cantávamos muita vez algumas coisas que eu já nem me lembro. Já há tanto ano.