Contra a vontade do pai

Quando fui para a floresta, no trabalho do Estado, eu era novito. O meu pai nem queria que eu ainda fosse. Eu agarrei nos tamanquitos que a gente trazia e à noite disse:

- Amanhã quero ir para a floresta.

- “Não vais nada. Não vais nada. Que não te lá aguentas com o frio, não vais nada.”

E tinha razão. Eu à noite agarrei nos tamanquitos e fui esconder debaixo da tarimbazita onde dormia. Aquilo não era cama, nem era nada. Ao outro dia estava sempre com aquela coisa, assim que ouvia o meu pai andar:

- “Então?”

- Eu vou também para a floresta.

Era longe e a pé. Naquele tempo saía às seis horas. Era uma hora e tal ou mais a pé. À noite era já escuro quando a gente aqui chegava outra vez. Se fosse como agora que já há transportes, mas era a pé. Eu era miudito, novito e com as mãos muito frias. Ia buscar uns canequitos de água. Eu chegava tiravam-me o canecozinho da água de cima que levava ao ombro, não conseguia endireitar as mãos. De forma alguma, não conseguia. As moças:

- “Ó Neves, endireita as mãos.”

As moças agarravam-me nas mãos eu até me aninhava no chão. E a meter-me as minhas mãozitas assim debaixo das covas dos braços delas. Eu então, com o calorzito lá começava. Isto tem sido vidas, enfim. Tem sido ruim.

Era cortar mato com um enxadão. Um enxadão com um cabozinho. A gente a cortar aquele mato. Havia sítios que tinha plantação, que já tinham posto, por exemplo, árvores. Aquilo é arvoredo na serra por aí fora. Antigamente era tudo limpo. E na Mata da Margaraça, limpar aquele mato era trabalho da gente. Depois onde o mato era mais grosso a gente não tinha forças. A gente a esgadanhar aquilo tudo.

Levávamos uma buchazita, uma sopita. Aquilo que se podia arranjar. Depois lá fazia-se um bocadinho de lume e a gente ali punha uns panelinhos que faziam de barro. Punha-se aquilo de roda daquela braseirozinho a aquecer. Comíamos aquela sopita, trazia-se um bocadito de massa, um bocadito de arroz, com algum bocadito de conduto se havia. Se não havia comíamos assim.