Escola nocturna

Tivéramos uma senhora na Mourísia. Era uma boa professora. Uma mulher já de idade. O nome da senhora era o mesmo nome da minha falecida mulher. Eu andei lá. Durante o dia íamos trabalhar e à noite íamos para lá. Andou lá muita rapaziada. Era só para a noute, só para a rapaziada assim mais crescida. Mas a rapaziada que andou lá, ou pouco ou muito, ainda aprenderam qualquer coisa. Eu não aprendi nada. O que é que acontece? Fui andando, fui andando, cheguei a um certo ponto:

- Eu não vou mais para a escola. Vou para lá fazer o quê? Eu não aprendo nada.

Eu ainda era miúdo, novo, mas isso nunca mais me esqueceu. Disseram-me assim muito depressa os colegas que andavam lá:

- “Pois, tu vais para a escola, em vez de te agarrares às letras de cima da mesa, pões-te a baixar a cabeça por baixo da mesa a olhar para as pernas da professora.”

Disseram aquilo, mas eu não fazia aquilo. Nunca mais me esqueceu. Então a malta às vezes quando pergunta:

- “Então não andaste na escola?”

- Andei, mas eu ia para escola era...

De resto nunca andei em escola nenhuma. Cheguei a pontos que aborreci-me, chateei-me com aquilo e vim-me embora. Deixei de ir.

Dos meus irmãos, o único que sabe fazer, mal, o nome dele é o meu irmão, e porque esse poucochinho que ele aprendeu e que sabe, foi com a mulher que ele tinha. Ela sabia ler. De resto, dos meus outros irmãos ninguém sabia ler.