Cincos irmãos

Éramos cinco irmãos e era uma sardinha dividida por dois, com um bocadinho de pão de milho. Quer-se dizer, hoje praticamente metade vai para o lixo. Aquilo era só espinhas. A gente não queríamos jantar aquilo, mas pronto não havia hipótese. Tínhamos que comer aquilo, às vezes espinha e tudo.

Éramos três raparigas e dois rapazes. Das raparigas já morreu uma, já somos só quatro. Ainda hoje me dou bem com eles. Ainda hoje convivo com eles. Uma mora lá para os lados de Sintra. Uma mora à parte detrás do Piódão, em Chás d'Égua. Mas não é mesmo na povoação. É ao fundo numa quinta chamada os Moinhos. O meu irmão mora em Lisboa, na zona da Sobreda, onde mora também o meu filho. Quer se dizer, pobrezinhos sim, nunca tivéramos uma pequena coisa.

Só houve uma altura com essa tal minha irmã que está em Sintra, que eu comecei mais essa minha irmã a teimar. Há sempre aquelas teimas. Estava ali uma confusão. O meu pai dizia assim:

- “Estejam calados. Já chega. Estejam sossegados.”

Eu era o mais novo. Eu sinto assim uma chapada pela cara. Na minha lembrança, que o meu pai me batesse foi a primeira e a última. Eu só sei que me encontrei a rebolar no chão.

- “Então calam-se ou não se calam?”

Eu calei-me, ela calou-se. Da minha lembrança, com os meus irmãos ou eles comigo, ainda hoje nos damos bem uns com os outros.