“Era para gastos de casa e aquele que sobrava vendiam”

Para cultivar o milho tinha que se tirar a terra do fundo, carregá-la para cima. Depois ainda era lavrada. Punha-se o milho por cima da terra e passava-se uma grade com os bois que enterravam o grão para depois nascer. A outra fase depois de estar crescido, era rarear. Tirar para ficarem só aquelas, mais ou menos, com aquela distância. Depois tinha que se sachar. Era tirar as ervas com um sacho, mexer a terra para tirar as ervas que tinham nascido. Depois tinha que se empalhar. Pôr mato ou palha, qualquer coisa por cima para depois se enleirar. Começava-se a fazer uns regos e a primeira vez a terra tinha que ser batida com um sacho para ficar bem, para depois regar. As outras vezes depois era só regar.

Cortava-se a bandeira, tirava-se a folha. Quando ele já estava maduro cortava-se a espiga e trazia-se para casa. Era malhado com uns paus para sair o grão do casulo e depois era posto ao sol para secar. Aí em Setembro, Outubro. Mais ou menos em Outubro é que era a secagem do milho.

Metia-se dentro de uma arca e naquela altura também vendiam. Vendiam para realizar dinheiro. Era para gastos de casa e aquele que sobrava vendiam porque havia quem comprasse. Vinham comprar assim no fim do São Miguel, no fim de secar. Vinham comprar o que havia.

O milho era só para cozer a broa e farinha para o porco. Para pôr lá na comida dele. A agricultura tinha o milho, mas quando se enleirava, semeava-se logo nabos e outras coisas que era para depois alimentar o porco com as cabeças e tudo. Era a alimentação do porco durante o ano.

Naquela altura era barato, mas eu ouvia dizer aos mais antigos que em 1950 era preciso andar dois dias para ganhar um alqueire de milho. Depois para aí em 1960, ouvia as pessoas mais antigas que já era preciso um dia e depois foi decrescendo até aos níveis de hoje em que hoje num dia se ganha muitos alqueires. A nossa agricultura aqui não conta para nada. É só para consumo próprio.

Tínhamos uns moinhos ao fundo da ribeira em que se ia lá moer. Trabalhavam a água. Levava-se um sarrão que é assim a pele de uma cabra. Que era curtido e era feito. Aquilo era engraçado. Tinha duas coisas para os lados pareciam dois pernis. Levava-se o sarrão do milho, ia-se moer e ia-se lá mais tarde depois de estar moído trazer-se a farinha. Quando era para cozer tinha que se amassar numa gamela. Numa gamela grande. Fintar. Já estava o lume no forno. Quando estivesse o forno quente era trazida a gamela e era feita. Metiam-se as broas para dentro do forno até cozer. Depois de estar cozido levava-se para casa e durava conforme a quantidade. Uma vez podia durar oito dias. Aquela fornada.

Todas pessoas coziam a broa. Ninguém comprava pão do padeiro. Quando se comprava pão do padeiro isso era só lá uma vez por festa. Aquilo era uma coisa especial. Quando a gente comprava um pão dizia que era um pão fino, um pão de trigo. Aquilo era uma coisa do outro mundo. Em ocasiões especiais só.