“Já sabia fazer o meu nome”

Normalmente, no nosso tempo, aos 8 anos é que nós entrávamos para a escola. Mas acontece que, um ano antes, quando eu era para entrar, fechou a escola na Mourísia. Então obrigaram-nos a ir para o Sobral Gordo. Mas depois, os meus pais e os outros pais dos outros alunos da terra, não queriam que nós fossemos para lá que era para ver se escola aqui se mantinha. Mas nunca mais voltámos a ter escola. Então, como a gente não teve outra solução, tivéramos que ir mesmo para o Sobral Gordo.

Mas eu não perdi esse ano. O meu pai fazia o favor de todos os dias à noite me passar, escrever os números numa folhinha, numa lousazinha. Na lousa e na folha. Passava-me os números, passava-me as letras e ensinava-me a fazer tudo isso. Como eu esse ano já não fui, só entrei ao outro ano. Então, quando foi ao outro ano, eu fui para escola já sabia fazer o meu nome. Já conhecia as letras todas. Praticamente já começava a construir as frases. Já sabia praticamente ler e escrever. Cheguei lá foi fácil, claro. À comparação de agora, eu já levava o que é agora o infantário. Eu não perdi. Fiquei esse ano em casa que devia de ir, mas eu não o perdi. Avancei. Eu a partir dali nunca tive problemas. A professora não tinha trabalhos nenhuns comigo.

Antigamente era diferente do que são agora os ensinos na escola. A professora ditava. Estava na secretária à nossa frente, ditávamo-nos os ditados e a gente estava nas secretárias a escrever. Então, conforme ela ditava, por exemplo, à terceira, à quarta classe, o que é que eu fazia? Ela mandava-me fazer os trabalhos e o que ela mandava fazer eu fazia aquilo rápido. Andava na segunda classe. Então, em vez de eu estar a olhar, conforme ela estava a ditar os ditados para a terceira, para a quarta classe eu punha-me a fazer como se fosse da terceira, da quarta classe. O que é que acontecia? No final, os alunos iam lá entregar os ditados para a professora ler e eu ia entregar também o meu. Tal e qual. A maior parte das vezes, eu dava muito menos erros do que davam os que andavam na terceira e na quarta classe. A professora adorava-me, gostava de mim. Até porque a partir daí, ela às vezes vinha à Mourísia. Ela alegrava-se comigo. Era uma maravilha.