“As calças do meu pai”

Na casa antiga dos meus pais, que agora já não existe era assim: o forno estava mesmo encostadinho à cozinha. Só estava uma paredinha no meio. Então, fizeram-lhe um janelinho. A minha mãe amassava a broa nos balcões da cozinha e punha ali a gamela. Amassava a broa e ali mantinha-se a gamela. Porque ela estando finta, e o forno está quente, temos que pegar na gamela e ir levá-la, para metermos para o forno. A gente ali não era preciso. A minha mãe punha ali a gamela, amassava a broa, ali se fintava. Ela estando finta, eles tinham aquele janelinho, estava o meu pai ou quem tinha aquecido o forno, punham a pá ali na beira do janelinho, e a minha mãe estava na cozinha ao pé da gamela. Tendia a broa, metia-a lá na pá. Não era preciso andar com mais preocupações, com a gamela às costas e não sei que mais. Estava ali mesmo tudo ao pé, maravilha.

A gente vinha com a farinha. A minha mãe colocava a farinha, o fermento e amassava-a. É com água meia quente, meia fria. Convinha ser mais quente que fria. Porque se a água ficasse fria ou praticamente fria, a broa levava muito mais tempo a levedar e muitas vezes nem chegava a levedar. Depois deixava-se fintar. Tinha aí à volta de duas horas a fintar. Entretanto ia-se aquecendo o forno. Ele estando quente metia-se lá a broa.

Quando não fintava, o que é que a minha mãe tinha que ir fazer? Ia buscar as calças do meu pai e dizia que depois já se fintava melhor. Ia lá colocar as calças do meu pai de cima da roupa, para ela se fintar rápido. Estendia as calças do meu pai de cima da roupa. Tínhamos que tapar a massa com muita roupa. Quanto mais roupa lhe metêssemos melhor porque o calor com o fermento é que faz fintar. Se a massa arrefecer já não leveda tão bem. Antigamente tinham assim estes costumes, mas batiam certo, essa é que é uma verdade.