“Quantas vezes fui descalço”

Entrei para a escola só com 8 anos, porque o meu pai, que Deus tem, nem tinha vontade de eu ir para a escola. A minha mãe é que queria. A primeira coisa que aprendi foi o ABC e a contar até dez. Ainda fiz só até à terceira classe.

A escola era aqui na Moura da Serra. Era à antiga, mas até tinha boas condições. Tínhamos que ir a pé e vir. Às vezes dias maus. Três quartos de hora para cada lado. Quase uma hora para cada lado. Às vezes ainda demorava menos porque já ia atrasado.

Por vezes antes de ir para a escola ainda teria de ir buscar um molho de mato para as cabras. Depois ia atrasado, até me descalçava. Quantas vezes fui descalço. Deixava os tamancos debaixo de um moiteiro debaixo de uma coisa e ia descalço para chegar rápido, para não chegar atrasado.

Agora já comem na escola, mas no meu tempo tínhamos que levar a buchita. Vinha lá às vezes fria. E tinha que estar seca. Ou um bocado de queijo e pão ou umas batatas fritas. Uma latazita de uma coisa, e o pão. E passava-se mal.

Era sempre aí 14, 15, às vezes até 20 alunos. Era conforme os anos. Conforme a rapaziada que ia nascendo. O que é era tudo na mesma sala. Era primeira, segunda e às vezes terceira. Cada um dava as suas matérias separadas, mas era tudo na mesma sala. Tanto os da primeira, como os da segunda, ao lado dos da terceira. Era só até à terceira classe. A partir da terceira classe já se tinha que ir para outro lado.

Tinha uma professora. Era muito boa professora. Não batia a ninguém. Primeiro a mim nunca me bateu. Só que ela punha-os lá de joelhos a um canto um bom bocado. Eram os castigos que ela dava. Muito boa professora. As pessoas cá nesse tempo levavam a gente desde a primeira classe. Eu fui só até à terceira, mas foi sempre a mesma professora.